Seu celular pode estar te causando câncer?
A radiação eletromagnética constitui um fenômeno físico onipresente no cotidiano humano, manifestando-se em diferentes faixas do espectro eletromagnético. Desde a radiação solar, essencial para a manutenção da vida, até as ondas de rádio utilizadas em sistemas de comunicação sem fio, sua presença é constante. Na área médica, a radiação desempenha papel fundamental em diagnósticos e tratamentos, como ocorre no uso de raios X. Entretanto, determinados tipos de radiação são reconhecidos por representarem riscos à saúde quando a exposição é excessiva. Surge, assim, a questão: toda radiação eletromagnética é prejudicial? Especificamente, a radiação emitida por dispositivos móveis pode ser considerada carcinogênica?
Natureza da Radiação Eletromagnética

A radiação eletromagnética corresponde à propagação de energia sob a forma de ondas eletromagnéticas, caracterizadas por diferentes frequências e comprimentos de onda. Embora o termo “radiação” costume estar associado a efeitos nocivos, é importante ressaltar que nem toda radiação apresenta potencial danoso. A luz visível, por exemplo, é um tipo de radiação eletromagnética fundamental à percepção visual humana.
Do ponto de vista biológico, a propriedade determinante está relacionada à frequência e, consequentemente, à energia transportada pela onda. Com base nesse critério, distinguem-se dois grandes grupos: a radiação não ionizante e a radiação ionizante.
Radiação Não Ionizante
A radiação não ionizante apresenta energia insuficiente para remover elétrons de átomos ou moléculas, não sendo capaz, portanto, de promover ionização. Nessa categoria incluem-se:
– Ondas de rádio e televisão
– Micro-ondas
– Radiação infravermelha
– Radiação emitida por dispositivos móveis e redes Wi-Fi

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as radiofrequências utilizadas em telefonia celular foram classificadas pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) no Grupo 2B, isto é, como “possivelmente carcinogênicas para humanos”. Essa classificação não implica em comprovação causal, mas reflete a existência de evidências limitadas que justificam a continuidade das investigações. Até o presente momento, não há consenso científico nem provas conclusivas de que a exposição a campos eletromagnéticos de baixa energia, como os emitidos por celulares, esteja associada a um aumento significativo na incidência de neoplasias.
Radiação Ionizante
Em contraste, a radiação ionizante possui energia suficiente para remover elétrons de átomos, processo denominado ionização, que pode resultar em alterações estruturais das moléculas biológicas. Entre os principais exemplos destacam-se:
– Raios X
– Radiação gama

A interação da radiação ionizante com tecidos biológicos pode levar à ruptura de ligações químicas e à lesão direta do DNA. Embora existam mecanismos endógenos de reparo celular, a exposição excessiva ou falhas nos processos de reparação podem culminar em mutações genéticas. Tais mutações estão associadas a consequências graves, incluindo infertilidade, lesões cutâneas, alterações hematológicas e, sobretudo, câncer — considerado o efeito mais crítico devido à proliferação descontrolada de células geneticamente instáveis.
A severidade dos efeitos biológicos depende de três fatores principais:
1. Dose absorvida: quantidade de energia depositada nos tecidos
2. Tempo de exposição: duração da interação com a radiação
3. Tipo de tecido exposto: determinados órgãos e sistemas são mais radiossensíveis que outros
Dessa forma, a utilização de radiação ionizante em contextos médicos ou industriais é estritamente regulamentada, e os profissionais que atuam nessas áreas seguem protocolos rigorosos de proteção radiológica.
Considerações Finais
Enquanto os efeitos deletérios da radiação ionizante sobre a saúde humana são bem documentados e cientificamente estabelecidos, a radiação não ionizante, como a proveniente de dispositivos móveis, não apresenta energia suficiente para induzir ionização ou promover quebras químicas diretas no DNA. Com base nas evidências atuais, não há justificativa científica para classificar o uso cotidiano de celulares e roteadores como fator de risco comprovado para câncer. Contudo, a investigação científica permanece em andamento, com o objetivo de esclarecer potenciais efeitos biológicos associados à exposição prolongada a campos eletromagnéticos de baixa energia.
Referências: